AUTORAIS

                                            


          LETRAMENTO      GESTUAL     E      FORMAÇÃO     DOCENTE:    UMA ABORDAGEM DA LINGUAGEM CORPORAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Autor: Francisco Igor Arraes Alves Rocha; Coautor: Simone Dália de Gusmão Aranha



(Universidade Estadual da Paraíba, igorcrato@hotmail.com; simone.dalia@yahoo.com.br)



Resumo: A relação entre professor e aluno é fator determinante para que os objetivos pedagógicos sejam atingidos. Nesse sentido, a habilidade comunicativa do docente é fundamental, pois, é através da linguagem que se estabelecem vínculos necessários ao aprendizado. A comunicação não verbal é um aspecto crucial no contexto da sala, entretanto, devido à escassez de uma preparação específica sobre esse tema nos cursos de graduação em Letras, muitos iniciantes à docência não têm acesso a tal conhecimento. Entende-se que uma preparação acadêmica direcionada à linguagem corporal formaria um professor de língua materna capaz de perceber, interpretar e utilizar os recursos extralinguísticos da comunicação com segurança e eficiência. Nesse contexto, este estudo objetiva abordar a problemática dos multiletramentos na escola, com ênfase no letramento gestual, demostrando a necessidade de inclusão de estudos relacionados à linguagem corporal em cursos de licenciatura. Como metodologia, adotou-se a pesquisa bibliográfica com ênfase na relação entre letramento, multiletramento e comunicação gestual em sala de aula e suas implicações na formação do professor de língua portuguesa. Como aporte teórico, este estudo utiliza Rojo (2012) e Soares (1999) em referência aos conceitos de letramento e multiletramentos; Aguiar e Ficher (2012), Morin (2002) em relação ao contexto escolar; Bicalho (2014), Dolz (2009), Guimarães (2014), Schnack (2014), Pires (2012), Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Weil (2003) e Tompakow (2003), na discussão sobre os gestos didáticos, gestos corporais e formação docente.

Palavras-chave: Formação docente, Letramento gestual, Linguagem corporal.
Resumo do artigo apresentado no IV Congresso Nacional em Educação 
Veja na íntegra no link abaixo:

A descriminalização do aborto

     Uma coisa é o aborto em si! Para minha concepção religiosa é a morte de uma vida, portanto, crime.
Isso é uma coisa; outra coisa é eu querer que as mulheres que fazem um aborto, sejam criminalizadas, presas como bandidas e certamente mais maltratadas ainda. Sim! Porque é justamente algum maltrato a que colocou nessa situação. Não se trata de vitimação, mas de consequência, para qual há uma ou mais causas as quais devem ser sanadas, ou o fato se repetirá. .
    Ao invés de criminalizar, é necessário educar, fornecer métodos contraceptivos e auxiliar, amparar e tratar as mulheres que se submetem a tal prática, para que elas sejam tratadas e evitem repetir. Na verdade, de criminosos o país já está cheio e a criminalização nunca surtiu efeito na diminuição da prática, que ocorre a olhos vistos.
    O debate sobre o tema e sua decisão não deve ser pautado em religião, porque é uma questão de saúde pública.
Assim, posicionando-me diante do debate.... defendo a descriminalização, mas não defendo o aborto, entendeu?




O ano em que eu  morri


     A primeira pá de terra bateu   seca na tampa do caixão. Veio a segunda e continuei contando... nem sei por que, acho que para me distrair, e fui até o som ficar fofo e meu corpo afundar na terra, para sempre. Somente o coveiro estava presente, já que teria sido pago, e bem pago, se é para enterrar esse aí que pelo menos seja mais caro, também não tem quem queira me ajudar então... ... No ano em que morri, era véspera de Natal e, à noite, depois do vinho, eu me deitei um pouco, pois ainda queria ver tv.  Mas ela veio, uma dor que começou um pouco incômoda,  depois ... até.. Bem, eu morava próximo ao mercado, minha casa tinha dois quartos, um corredor que dava para uma sala/cozinha, onde além das refeições gostava de assistir a tv deitado na rede. Do meu quarto, via-se um corredor, com um muro não muito alto, de forma que parte do céu podia ser apreciada dali. Uma estante com livros, vinho e um aparelho de som , com um toca disco e os meu vinis que formavam uma coleção eclética.
   Na janela, havia uma grade, por onde dava para conversar com charlote a quem vez por outra eu jogava ossos, era uma cadela que se apoiava nas grades da janela para me ver. Ela estava lá quando me deitei e me olhava com aqueles grandes olhos acastanhados. Mas quando percebi, a dor passou  e me veio um tremor, um frio inexplicável, parecia febre só que meu corpo não estava quente aí...nessa hora eu percebi, sim era minha hora que bom... Reuni as últimas forças peguei o Charles Mingus “ Blue Bird” “Pa-ra-ra-ra-rá..; Pa-ra-ra-ra-rá.. Pa-ra-ra-rá...páá!!!” e me deitei de novo, agora sim! Ela podia vir que a receberia de braços abertos, quando ela chegou parecia um poema, ou o último acorde de um blues, como disse meu amigo poeta. Charlote grunhiu, resmungou, latiu até o dia seguinte, se não fosse isso, talvez eu apodrecesse ali mesmo.
     Há exatamente um ano, ninguém mais andava em minha casa, nem telefonema, nem carta sequer. Por isso a exigência do coveiro, nessa cidade ninguém falava mais comigo. Eu recebia um magro aposento de professor e para compra meus mantimentos, tinha que enviar o dinheiro, geralmente colocava uma lista do que eu queria por baixo da porta do comércio onde iria comprar, no dia seguinte, deixavam a mercadoria na minha porta.
     Ninguém roubava, nem os ladrões queriam me assaltar. Ir embora! Só se fosse a nado, e até pensei, confesso, mas  a ilha era distante do continente. Os barqueiros, esses é que não queriam mesmo nem ouvir meu nome. Padre, delegado, médico, ninguém... por isso eu estava só quando ela chegou.
      Assim, deram ordens expressas ao coveiro que me enterrasse em um lugar desconhecido, não colocasse nenhuma cruz para que ninguém mais soubesse onde eu estaria. Feito! E bem feito!!! Assim foi o meu enterro, absoluto!
     Acho que só Charlote, na realidade, Carlota, eu a chamava de charlote porque assim como no romance de Goethe ela me era sem nunca ter sido, pois nosso único contato de dava pela grade da minha janela, eu a tinha platonicamente. Aliás, se a cidade suspeitasse desse contato, teria exigido a construção de uma parede na casa vizinha, em frente a minha janela.
    Quando terminou, o coveiro, Zé Romão, ainda sentiu vontade de me fazer uma oração, mas desfez-se logo da ideia, e saiu balançando a cabeça. Morto. Morto e á enterrado e, para todos daquela ilha, eu  era isso, mesmo antes de tê-lo sido!

Toc, toc, toc...
-  Quem e?
Sou eu, seu padre, o delegado...
- Entra!
Já soube? Ele morreu, ontem à noite, já enterraram, ou melhor, pagaram a Joãos Romão para enterrá-lo e ele veio me comunicar...
- Não era sem tempo, que Deus ou, o mais provável, o tenha.
- Seu padre... todos somos cristãos, e ele antes do acontecido até frequentava sua igreja
- Nem me lembre que chaguei a dar a comunhão praquilo e ainda aceitei dízimo dele, se eu desconfiasse, nunca teria entrado na minha igreja eu o teria escurraçado como um cão raivoso, mas felizmente a verdade veio à tona e a justiça divina é a que prevalece, mesmo sabendo que esse lá já estava condenado mesmo.
- tudo bem, mas o melhor é que a cidade ficou livre dele, para sempre! Agora vou ao cartório, verificar se fizeram algum obituário, as notícias correm depressa e a essa altura é, provável que já tenham providenciado isso.
       Estávamos em dezembro e o ano havia sido um caos mundial, jamais a população terrena havia sofrido tanto, terremotos maremotos, inundações, até meteoros andaram caindo. O desequilíbrio ambiental foi somente mais um requinte de crueldade   nem precisava... Depois vieram as doenças, e faltaram hospitais e remédios, como disse, um caos. Foi justamente isso que ocorreu comigo....  
     Naquela noite terrível em que as pessoas começaram a falecer, eles bateram à minha porta, abri, ouvi os relatos, disse que ia me aprontar para tentar fazer algo, mas, quando entrei, minha mulher e filha já estavam arreadas, com aquela febre traiçoeira que matou tanta gente. Nem precisa dizer que não saí mais e quando começaram a falecer as pessoas lá fora, eles nem me chamavam mais, já passavam gritando ameaças. Estas foram ficando piores, até eu perceber que não sairia mais de casa.
     A minha filha e a minha há mulher resistiram mais tempo vivas porque eu as estava assistindo, mas, mesmo assim, três dias depois faleceram.
À essa altura, os mortos da cidade já não cabiam no  cemitério e passaram a queimar os corpos fora das cidades. Por isso, levei-as sozinho até o quintal e as enterrei lá.



Exemplo de manifesto 


Manifesto a favor da unificação do vestibular

       Nós, alunos da  rede pública de ensino, dirigimos este manifesto a todos os reitores de universidades brasileiras, alunos e professores de boa vontade. Declaramos a nossa firme intenção de apoiar a ideia de o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM - ser o único critério  para a aprovação de candidatos ao nível superior.
      Torna-se cada vez mais evidente, em um mundo globalizado, a necessidade de uma educação de qualidade acessível a todos, já que somente por meio do conhecimento, pode-se ter um pleno exercício da cidadania. Um sistema de vestibular que privilegia somente às pessoas que dispões de condições financeiras para se enfrentá-lo é antidemocrático e favorece à perpetuação da miséria.
      Um único exame aplicado concomitantemente  em todo o país trará uma radiografia mais precisa a respeito do ensino o que pode ser decisivo na distribuição dos investimentos e na apresentação de soluções pedagógicas.
       As universidades públicas que, teoricamente, deveriam atender  alunos advindos da escola pública, na realidade, têm, em sua maioria, uma população advinda do ensino particular, tornando-se mais um instrumento de exclusão.
      O modelo de avaliação proposto pelo ENEM apresenta questões interdisciplinares, pragmáticas e contextuais que exigem um raciocínio momentâneo e não a "decoreba"   promovida pelos  cursinhos pré-vestibulares, ou seja,  privilegia-se  o raciocínio, a inteligência e a capacidade de reação.
       A educação liberta as pessoas, transforma a realidade. Nós, discentes do ensino público, sabemos disso. Sabemos também que a unificação é apenas um pequeno passo, entretanto, dado  na direção certa, pode ser o marco inicial de um novo tempo.
Crato, 31 de agosto de 2009.


(Prof. Igor Arraes)




O salvador da pátria

Sinceramente, ainda não descobri o motivo, mas observando um pouco da nossa história político-social, é fácil perceber a relação do povo brasileiro com o heroísmo. É só ver um pouco: D. Pedro I, Getúlio V., Fernando Collor, entre outros e mais outros que virão, porque, pelo jeito, a massa ainda mantém essa crença como algo que está nas entranhas sociais e não quer sair.
Essa visão se reflete nas eleições para representantes do povo nas quais há uma supervalorização nos presidenciáveis, como se uma pessoa só pudesse resolver todos os problemas.
No fim das contas nos sobra, na maioria das vezes, (tão maioria que talvez nem haja minoria) eleitos que não têm representatividade moral, pois sabemos todos, sim! Todos nós sabemos que eleições têm preço no Brasil, acredito que até o mais alienado dos eleitores saiba disso.
Mas sempre aparece uma figura notória do tipo que diz o que os desesperados querem ouvir, coisas como construir muros, matar bandidos, etc. para o senso comum, massa de encefálicos, adotar como um verdadeiro candidato-herói. Aliás, a palavra "candidato está relacionada à "cândido", ou seja " que é dotado de "candura"
... que significa "pureza", verdade! Não sabia? Pois é os caras que se candidatam são etimologicamente puros.
E lá se vai mais uma novela da democracia brasileira!


A ilegalidade axiológica da criminalização do aborto

Sinto muito!
A criminalização do aborto, no Brasil, é uma das atitudes mais hipócritas da nossa sociedade. Não há argumentação que sustente essa atrocidade contra o direito da pessoa humana sobre si mesma.
Há muitas atitudes que ferem realmente à coletividade e à cidadania que deveriam ser criminalizadas, no entanto, assistimos atônitos, movimentos, muitas vezes, apoiados em preceitos religiosos que não representam a verdade, mas o ponto de vista de uma interpretação pautada em crenças e valores culturais.
O pior, aliás, o que torna essa situação mais hipócrita ainda, é fato de que, mesmo sendo proibido, o aborto é largamente praticado no Brasil  pelas mais diferentes classes sociais, em condições de clandestinidade, com a utilização de procedimentos duvidosos em locais muitas vezes insalubres.
A criminalização dessa prática alimenta o crime organizado, favorece o descontrole da situação, matas muitas jovens por complicações de procedimentos clínicos e pela ingestão de drogas, inclusive proibidas, mas que qualquer brasileira disposta e com dinheiro pode comprar.
E ainda acha que sendo contra o aborto defende a vida?
Sinto muito! (Igor Arraes)


O retrato vivo

 
Para se compreender  “Aves de arribação” de Antônio Sales , é preciso lembrar que o romance foi escrito em 1914 e sofre influencia da corrente realista-naturalista que vigorou no Brasil no final do séc. XIX.  Originalmente publicado em forma de folhetins do Correio da Manhã – 1903, tem como filamento temático o contraste entre os comportamentos sertanejos e citadinos.

Apesar de ser escrito ambientado no interior do Ceará, curiosamente, não utiliza a seca como “pano de fundo”, mas um outro lado quase desconhecido do público brasileiro da época que é o período das chuvas, da fartura, da natureza em toda a sua exuberância.

Por estar em consonância com o seu tempo, a obra baseia-se nos conflitos gerados pelo comportamento humano e suas relações sociais, procurando apontar traços definidores do caráter dos indivíduos.

Apesar de algumas vezes o autor utilizar-se de termos locais na construção de diálogos, o romance adquire tonalidade universal, já que o drama vivido pelos seus personagens tais como as conveniências das relações sociais, a busca pelo poder, o casamento por interesse financeiro, o adultério, a corrupção clerical são aspectos típicos do Realismo-Naturalismo que permearam tanto a literatura européia quanto a brasileira. 

Além disso, é uma obra que apresenta um efeito estético interessante principalmente nas descrições,  isso se justifica pelo fato de não ter sido escrita  por um romancista, mas por um poeta, tornando-se inclusive o único romance do autor. Gustave Flaubert,  Eça de Queiroz, Machado de Assis são ícones de uma época em que a arte literária se propôs a  trazer à tona as mazelas da sociedade burguesa e, nesse contexto,  o cearense António Sales é colocado no mesmo patamar que os demais.
(Prof. Igor Arraes)





A DOENÇA DA CURA




Uma das passagens de Matrix mais instigantes à questão existencialista humana é o momento da tortura de Morfeu (Personagem humano) por Smith (um agente, máquina). 
Este diz aquele que andou observando a classificação biológica dos seres na Terra e descobriu que o homem não é um primata, já que todos os primatas se integram perfeitamente ao meio. O homem, diz a máquina, explora todos os recursos do meio em que vive até destruí-lo e, assim, destruir a si mesmo também. E continua: uma outra espécie de seres tem comportamento semelhante, os vírus, eles se reproduzem consumindo todo o organismo até morrer com ele.
Considero justa a comparação, diante do nosso comportamento em relação ao planeta. Imaginemos até o seguinte: O planeta Terra é um Imenso organismo perfeitamente equilibrado, nós, somente nós, estamos provando um desequilíbrio, muitas vezes irreversível, haja visto as espécies extintas por nossas ações, rios destruídos, florestas e muitos mais. 
Então, quando nosso corpo, por exemplo, vê-se atacado com um outro corpo estranho, ele se defende. Cria anticorpos, essa é a defesa, para contra-atacar o inimigo... é... caro leitor, somos o inimigo a ser combatido e os anticorpos estão aí dengue, viroses, zica, AHN1, etc. Somos a doença e a doença é a cura!
Prof. Igor Arraes



O Guarani (José de Alencar)

resenha crítica

          O Guarani, romance da fase indianista de José de Alencar foi publicado pela primeira vez em forma de folhetim,no Diário do Rio de Janeiro em 1857.
          O romance é precursor da tríade indianista de Alencar (O Guarani, Iracema, Ubirajara), tem como tema principal o amor de um índio, Peri,  por uma branca, Cecília, e um enredo ambientado na época da colonização portuguesa em meados do séc. XVII. A história se passa às margens de um rio para onde o pai  de Cecília, D. Antônio de Mariz,  fidalgo português,  resolve se mudar, fugindo da vergonha de ter seu país dominado,na época, pela Espanha.

          O enredo  se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade de um índio goitacá, Peri, a Cecília, chegando a capturar uma onça viva só para agradá-la;  o amor de Isabel por D. Álvaro, e o amor deste por Cecília. Além disso, há algumas situações antagônicas, como não poderia deixar ser em se tratando de Romantismo: o no caso da traição do personagem Loredano e o cerco dos índios aimorés a casa de Cecília.
          A obra, além do valor estético-literário, tem um importante valor histórico, pois é sabido que José de Alencar fez pesquisas em arquivos históricos da época do descobrimento a fim de compor suas obras indianistas.
        
  A linguagem de Alencar é poética e com muita pormenorização nas descrições que, às vezes, pode tornar-se enfadonha a um leitor contemporâneo. Na época em que foi publicado, o romance conseguiu uma popularidade até hoje inigualável, isso devido aos momentos de tensão e aventura proporcionados pelo enredo maniqueísta romântico. Assim, O guarani é uma  obra que não pode faltar na leitura de quem admira e pretende  conhecer a história da  literatura brasileira.
Prof. Igor Arraes





PERSONAGENS EM CONFLITO



Ensaio a relação entre duas personagens do Romance O Guarani (José de Alencar) 

No Brasil, o Romantismo adquiriu uma roupagem local, principalmente com o indianismo de José de Alencar. Mesmo assim, as obras dessa fase refletem valores sociais burgueses. Essa constatação se dá claramente em O Guarani com a construção antagônica das personagens Cecília e Isabel.
Nesse romance, as personagens citadas são irmãs, convivem no mesmo ambiente, mas é perceptível a demonstração de superioridade de uma em relação a outra.
Cecília apresenta-se com traços angelicais, tanto que é confundida com uma santa pelo índio Peri, já Isabel possui traços fortes, sensuais, pois era assim que os europeus viam as mulheres nativas. Apesar de residirem na mesma casa, Cecília é fruto de um casamento convencional, portanto, filha legítima; enquanto Isabel é a filha bastarda, criada pela família do pai. Cecília, no romance, é a “princesa encantada”, disputada por três pretendentes, já Isabel sofre uma paixão enrustida por um dos pretendentes da irmã, aceita, estoicamente, esperar que a situação se decida. O que acontece somente com a morte dele.
Essas características observadas no romance demonstram o quanto José de Alencar estava em consonância com o seu tempo, mostrando todo o preconceito social a que estiveram submetidos os nativos e seus descendentes brasileiros, principalmente os do gênero feminino. Olhar a obra de Alencar, hoje, é estender os olhos aos costumes da sua época e constatar que, apesar dos avanços na convivência social em geral, ainda se percebe resquícios do patriarcalismo colonial na sociedade atual.
guarani, romance da fase indianista de José de Alencar foi publicado pela primeira vez em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro em 1857.
O romance é precursor da tríade indianista de Alencar (O guarani, Iracema, Ubirajara), tem como tema principal o amor de um índio, Peri,  por uma branca, Cecília, e um enredo ambientado na época da colonização portuguesa em meados do séc. XVII. A história se passa às margens de um rio para onde o pai  de Cecília, D. Antônio de Mariz,  fidalgo português,  resolve se mudar, fugindo da vergonha de ter seu país dominado, na época, pela Espanha.
O enredo  se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade de um índio goitacá, Peri, a Cecília; o amor de Isabel por D. Álvaro, e o amor deste por Cecília. Além disso, há algumas situações antagônicas, como não poderia deixar ser em se tratando de romantismo: o no caso da traição do personagem Loredano e o cerco dos índios aimorés a casa de Cecília.
A obra, além do valor estético-literário, tem um importante valor histórico, pois é sabido que José de Alencar fez pesquisas em arquivos históricos da época do descobrimento a fim de compor suas obras indianistas, apresentando, inclusive, aspectos do Romance Proscrito, muito comum hoje..



A lenda das estrelas



Onde nem tempo nem espaço, as estrelas moravam na terra, elas habitavam os céus e, durante a primavera, cantavam canções encantadas que inspiravam os seres todos da terra. Á noite elas pousavam na Grande Árvore no topo do mundo. 
Todos podiam vê-las de perto e ouvi-las, pois elas voavam em revoadas mundo afora, passando por todos os lugares, mas não era permitido pegá-las, todos sabiam que o seu brilho devia ser livre, mas um tempo se passou, veio outro tempo, outros homens... e um homem teve a ideia de prender estrelas, mesmo que fosse somente algumas, pois sabia que não ia poder pegar todas. Assim, juntou-se a outros homens e,numa noite de inverno, quando as nuvens baixaram, eles puderam se aproximar furtivamente da Grande Árvore, jogaram uma corda com um gancho e começaram a puxar bem devagar para não acordar as estrelas....



 puxaram, mais, mais e depois de muito, muito mesmo, a Grande Arvore estava quase ao seu alcance. Um raio veio do céu e cortou a corda, a arvore sacudiu de volta com tanta força que as estrelas foram jogadas para longe e nunca mais puderam voltar, assim surgiu a noite como conhecemos, com estrelas que só vemos de longe, assim as estrelas se foram....


Depois que as estrelas se foram a Grande Arvore sentiu uma grande dor, ficou no vazio da saudade, agora ela é a Árvore da Poesia, onde estão todos os poemas que são escritos, onde estão os nomes de todos os poetas, diz a lenda que no dia em o número de poesias da árvore for igual ao de estrelas soltas no universo, elas descerão de volta e harmonia reinará novamente na Terra. 
(Igor Arraes)




Cães e Deputados


Prof. Igor Arraes

Outra noite, estava ouvindo os cães da vizinhança latirem, olha que estavam muito agitados, fique pensando, diante de todo o ruído, se eles se entendiam, se um cão sabia o que a cadelinha estava latindo, será? Outros uivavam, faziam alarido. 


Já pensou o leitor se eles se combinassem? Não? Pois pensei... é... se eles se combinassem seria legal um avisaria ao outro: “Ó tem ladrão subindo aí no seu muro e o outro se prepararia... podiam em noites de lua combinarem-se
para produzir sons, é .... “o barulho é o som que ficou doido”(Hermeto Pascoal), então emitiriam trinados e formariam coros de vozes de cães...
É caro leitor, ou leitora, lógico, assim são os nossos deputados, já pensou se eles se entendessem? Para o bem porque para o mal eles já se combinam muito... pois teríamos um fantástico crescimento em todos os setores públicos, já pensou?
Mas não, eles, os deputados, vivem como cães, quando um late o outro quer latir ,mais alto; se um morde, o outro quer mais e mais... e quando se deparam com as carnes do erário público, então, é cada um por si e todos contra o povo.
Assim, entre cães e deputados, caminhamos nós, levando as mordidas daqueles a quem alimentamos e eles nem são vacinados contra raiva. É só observar a raiva com a qual eles se agridem e agridem os nossos ouvidos dentro daquele canil que chamam de parlamento. Aliás, a palavra parlamento, deveria ser tal qual o seu significado civilizador, local onde se fala.. parlamento, ora, Latimento!



O garimpeiro e as palavras...


Lembro-me de ler a aspereza das paredes, a réstia do sol nas telhas e as imagens voláteis que se formavam nelas; o cheiro da goiabas no quintal  e até o próprio pé de goiaba quando eu subia nele. Lembro-me também das primeiras revistas em quadrinhos que eu não decodificava, mas lia.                                                                                                                          Entre essas primeiras leituras, existia um livro: “Minha vida nos garimpos ( Antônio de Pádua Morse)” . Esse livro, além das palavras, é composto por algumas poucas gravuras que eu olhava e, por meio  delas, tentava construir uma espécie de enredo. Depois veio a alfabetização, no meu caso, foi através de uma tia, Tia Alacoque, professora, que passara as férias em minha casa e conseguiu realizar o que a escola até então não conseguira e  que seria, sem dúvida, a coisa mais importante que eu aprendera na vida.
 Vieram os anos escolares e eu detestei José de Alencar, odiei Machado de Assis e nem tomei conhecimento dos outros, pois lia coisas que me interessavam, aliás, devorava vorazmente revistas e livros, mas não os da escola. Assim conheci Gabriel Garcia Marques, de quem sou fã incondicional;  Kafka e outros que não faziam parte do currículo escolar. Devido ao meu hábito pela leitura e ao gosto pela arte em geral, ingressei no curso de Letras, hoje sou professor, um garimpeiro das palavras. Que sorte! Sorte de garimpeiro, diria até.
  Há alguns meses, durante uma visita à biblioteca do meu pai, encontrei-me novamente, após trinta e tantos anos,  com o meu amigo de infância “ Minha vida nos garimpos”, peguei-o com todo o carinho, levei-o para casa e fui finalmente desvendar suas letras. É um livro simples que relata a história  um garimpeiro que nuca conseguiu encontrar a riqueza que desejava “um diamante capaz de enriquecê-lo”, mas que por conhecer um pesquisador que passava pelo garimpo, aprendeu a ler e escrever e pode contar a sua história que termina assim:
“Eu, entretanto, não acho que nos garimpos haja perdido meu tempo. Não tive a ventura de encontrar um diamante notável, mas tive a felicidade de conhecer o Prof. Otto Hertz, que me ensinou muita coisa e despertou em mim o gosto do estudo.  Nenhum bambúrrio vale mais que a instrução. Nos garimpos aprendi a gostar de aprender.  Benditos garimpos!”
        Não foi o melhor livro que eu li, pois, como disse antes, é um livro simples que conta a história de uma pessoa comum, mas, com certeza, foi um dos mais prazerosos, pois me fez desvendar um mistério, o que as gravuras representavam, o mistério da escrita e seu poder de transformação. Hoje, o livro está guardado em minha estante como uma relíquia, um diamante precioso.

(Igor Arraes -2010)




  
O filme
 uma parábola

       O homem vive sob o signo da violência. O seus olhos estão encerrados em grades de solidão. Com os  pés  sobre o negrume do  asfalto, caminha sem rumo, desacompanhado, pois o seu semelhante é também o antagonista desse  enredo diário. No espelho, ele observa o passado e vê as imagens distorcidas pela história que ele mesmo construiu. Segue em passos largos rumo a um futuro incerto, fecundado por um presente confuso.  Quando ele, em sua fúria cosmopolita, injetada pela usura desmedida, atinge o outro, é a si mesmo que fere e sangra. A frieza no olhar, resulta da repetição do mesmo filme que ele, de tanto ver, acostumou-se ao desfecho. As crianças, entorpecidas pela perda da infância, brincam com a violência nesse cinema sem tela que passa na cidade. O homem assiste a si mesmo, torna-se autor, diretor, ator e expectador da própria ruína.

Prof. Igor Arraes.




O pescador e o professor  
        
Nunca me esqueci do dia em chegamos em Oriximiná nos confins do Pará, para o garoto era como se viajar ao fim do mundo ou outro mundo, já que viera do Nordeste algo bem diferente. Primeiro foi o mar de floresta serpenteada de rios que via da janela do bimotor em que viajávamos, mas ao chegar me deparei com um rio imenso, o Trombetas, e o peixe que saltava no meio do rio e me impressionava pelo tamanho, pela cor e pelos saltos.
- Que peixe é aquele?
- Tucuxi
          Hoje, após tanto tempo, a imagem do peixe continua em mim e de tanto gostar de peixe aprendi a pescar e tornei-me um pescador. Diariamente, jogo minha isca no rio, agito o anzol e tento fisgar algum, às vezes, eles vêm com facilidade, parece que nem precisam de anzol, até pedem para ser fisgados, peixes vistosos, ávidos pelo que temos a lhes dar, mas esses têm sido exceção, pois  os peixes são diferentes, mesmo com toda classificação em espécies, pela idade, pelo conhecimento, eles são diferentes. Por isso, a mesma isca não funciona para todos os peixes, assim como a mesma técnica de fisgá-los e também há aqueles que nem aí para qualquer isca.
Também, apesar de raros, há aqueles peixes que viram pescadores e até aqueles, o que é muito comum, que esquecem que já foram peixes e tentam, pela força, fisgar os seus e vivem reclamando pelos corredores que os peixes nem aí para o anzol, coitados, mal sabem que anzol sem isca não atrai peixe.
          Outro dia fui abordado por um peixe que confessou que vai ser pescador, agradeci silenciosamente, ele me disse que sua mãe não concorda, já que vida de pescador, para muitos, é ingrata e amarga, entretanto, ele insiste e eu acredito, será um ótimo pescador.
Agora, depois de glórias e derrotas, aprendi com a pescaria de cada dia que os  melhores peixes são os mais difíceis de serem fisgados e, mais ainda, de serem puxados para o lado de cá. Quando isso acontece, agradeço, sinto-me orgulhoso da minha profissão e penso que tudo isso pode ter jeito e, mesmo contra correnteza,  temos que continuar lançando nossos anzóis. Quem sabe a gente não fisga mais um...

Igor Arraes





O cidadão precisa se defender ...      
  
  votação foi num dia de domingo e o referendo, em fim, mostrara a vontade da maioria... “O cidadão precisa se defender... agora todo homem de bem, idôneo poderia possuir uma arma de fogo, ufa!
    Agora bastava uma certidão negativa da justiça, um curso de tiro, assim como as autoescolas que não ensinam ninguém a dirigir realmente, pronto, prontinho... Sergio podia comprar o seu tão sonhado treizoitão, vixe! O filho ao ver a arma ficou entusiasmado, mas Sergio era um homem muito, muito controlado e jamais usaria aquela arma se não fosse para defender a sua vida e da sua família, estava feito. Como todo cidadão de bem, Sergio proibiu terminantemente que o filho pegasse e saísse com o pau de fogo!
     No bairro, várias casas já haviam sido assaltadas e, inclusive, um caso em que os bandidos até torturaram uma família atrás de saber um ficava um cofre que nem existia, um horror, isso é pior que a guerra, é uma guerra!!!! Dizia Sergio, também esse governo de merda nem faz nada, a gente tem que tomar atitude....
     Naquela noite,  o seu filho iria à festa da escola depois sairia com uns colegas e dormiria na casa de um deles, mas justamente nessa mesma  noite, um dos garotos  passara mal por beber demais,  o da casa em que o filho de Sérgio ia dormir...ia
     E assim o filho de Sergio voltou de carona com os pais do colega.... era tarde e não queria acordar o pai, deixavam uma cópia da chave  escondida no jardim.
     Cedo da noite, Sergio ouvira gritos, acordara assustado umas três vezes, até tinha ouvido alguém saltando o seu muro viu um vulto, levantou-se rapidamente e acendeu a luz para olhar, mas logo pularam o muro de volta, era ladrão, sim!  Um larápio que andava pela redondezas, havia pulado, assustou-se com a luz e desistiu...
É.... pensou  Sergio, esse deve estar pensando que vai roubar minha casa.... ficou acordado com o susto e, para garantir, colocou o revólver na gaveta do criado mudo, ao lado da cama, ficou alerta... às vezes, dava uma cochilada, acordava assustado...

     Já mais tarde, acordou de novo com alguém pulando, viu pela janela, meio sonolento, um vulto estranho, abriu a gaveta do criado mudo, e assim como aprendera na escola de tiro,  mandou bala... O vulto caiu, todos acordaram a esposa assustada, o que foi? Ladrão...matou? Sim acho que sim... vamos ver, cuidado, vai não, vai não... chama a polícia.... mas antes ligar ouviu uma voz no quintal, algo bem mais familiar que um mero vulto, paaai!!!! Paiiii!.... Era uma noite triste, a bandidagem anda a solta, e o cidadão precisa se defender... (Igor Arraes)






(prof. Igor Arraes)

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