O ENSAIO
O ensaio é um
texto literário que contém uma discussão livre, pessoal, de um assunto
qualquer. Nele, o ensaísta coloca-se
subjetivamente diante de um tema sem precisar provar ou mesmo justificar suas
idéias, nesse caso, preocupa-o mais o exercício do raciocínio na sensibilização
do leitor do que a apresentação de provas convincentes que validem uma tese.
Dependendo do assunto, o ensaio pode ser literário, sociológico, filosófico,
etc. Nele, regem três idéias básicas: “a)
o auto-exercício das faculdades; b) a liberdade pessoal; o esforço constante pelo pensar original.
(Massaud Moisés)”. É um texto essencialmente crítico, já que propõe uma atitude
ginástica do intelecto, contrariando o obscurantismo e o autoritarismo. Mantém
uma preocupação estético-literária, procurando não convencer, mas comover o
leitor.
CARACTERÍSTICAS
- Linguagem culta, dentro do código padrão;
- Capacidade de análise crítica;
- Capacidade de articulação de idéias;
- Progressão, informatividade;
- Aspectos da descrição;
- Aspectos da narração;
- Tonalidade poética;
- Didatismo;
- Utilização da terceira pessoa ou primeira pessoa;
- Estrutura livre;
- Demonstração de independência ideológica;
- Organização hierárquica dos argumentos
- Organização hierárquica dos enunciados e todas as
segmentações textuais
- Utilização de título, quando requisitado
Proposta de Redação: Ensaio
1- (UFC) Leia os textos que
seguem.
Texto I
Álvaro
fugia e evitava Isabel; tinha medo desse amor ardente que o envolvia num olhar,
dessa paixão profunda e resignada que se curvava a seus pés sorrindo
melancolicamente. Sentia-se fraco para resistir, entretanto o seu dever mandava
que resistisse.
Ele
amava, ou cuidava amar ainda Cecília; prometera a seu pai ser seu marido; e, na
situação em que se achavam, aquela promessa era mais do que um juramento, era
uma necessidade imperiosa, uma fatalidade que se devia cumprir.
ALENCAR,
José de. O Guarani. Fortaleza:
Edições UFC, 2006, p. 240.
Texto II
Loura e morena: duas faces do feminino
Duas
donzelas são responsáveis pela representação do feminino em O Guarani; Cecília, a loura; e Isabel, a
morena. Mais do que simples traço de distinção física entre ambas, os atributos
“loura” e “morena” são marcas de diferença racial e social e, acima de tudo,
apontam para dois pólos opositivos e complementares na configuração do feminino
na trama romanesca.
SCHMIDT,
Simone Pereira. “As relações do feminino/masculino em O Guarani”. In: Revista Letras
de hoje. Porto Alegre: PUCRS, v. 30, no. 1, março 1995, p. 64.
Texto III
Ensaio – É um texto literário breve, em prosa, situado entre o
poético e o didático, caracterizado pela liberdade crítica e pelo tom pessoal
assumido pelo autor, que expõe suas idéias, críticas e reflexões a respeito de
um tema. Consiste, portanto, na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo
sobre um tema. Difere do artigo, principalmente, no que tange à forma de
expressão das idéias: enquanto no artigo são expressas opiniões, no ensaio
pressupõe-se o amadurecimento de convicções, ou seja, o autor apresenta uma
argumentação convincente, resultado de uma reflexão baseada em dados.
Texto
elaborado com base em MOISÉS, Massaud. Dicionário
de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 175-178.
A
Academia Cearense de Letras está compilando diversos ensaios para organizá-los
em uma obra intitulada Personagens
Femininas de José de Alencar.
* Produza um ensaio no qual você
analisa o antagonismo abordado por José de Alencar, em O Guarani, através das personagens Cecília e Isabel. Lembre-se de
que seu texto deve apresentar a descrição das duas personagens e a reflexão
acerca do enfoque dado por Alencar à oposição entre elas.
Exemplo de ensaio
PERSONAGENS
EM CONFLITO
No Brasil, o
Romantismo adquiriu uma roupagem local, principalmente com o indianismo de José
de Alencar. Mesmo assim, as obras dessa fase refletem valores sociais
burgueses. Essa constatação se dá claramente em O Guarani com a
construção antagônica das personagens Cecília e Isabel.
Nesse
romance,as personagens citadas são irmãs, convivem no mesmo ambiente, mas é
perceptível a demonstração de superioridade de uma em relação a outra.
Cecília
apresenta-se com traços angelicais, tanto que é confundida com uma santa pelo
índio Peri, já Isabel possui traços fortes, sensuais, pois era assim que os
europeus viam as mulheres nativas. Apesar de residirem na mesma casa, Cecília é
fruto de um casamento, portanto filha legítima; enquanto Isabel é a filha
bastarda, criada pela família do pai. Cecília, no romance, é a “princesa
encantada”, disputada por três pretendentes, já Isabel sofre uma paixão
enrustida por um dos pretendentes da irmã, aceita, estoicamente, esperar que a
situação se decida. O que acontece somente com a morte dele.
Essas
características observadas no romance demonstram o quanto José de Alencar
estava em consonância com o seu tempo, mostrando todo o preconceito social a
que estiveram submetidos os nativos e seus descendentes brasileiros, estendendo
inclusive àqueles frutos da miscigenação. Olhar a obra de Alencar, hoje, é
estender os olhos aos costumes da sua época.
O guarani, romance
da fase indianista de José de Alencar foi publicado pela primeira vez em forma
de folhetim,no Diário do Rio de Janeiro em 1857.
O romance é
precursor da tríade indianista de Alencar (O guarani, Iracema, Ubirajara), tem
como tema principal o amor de um índio, Peri,
por uma branca, Cecília, e um enredo ambientado na época da colonização
portuguesa em meados do séc. XVII. A história se passa às margens de um rio
para onde o pai de Cecília, D. Antônio
de Mariz, fidalgo português, resolve se mudar, fugindo da vergonha de ter
seu país dominado,na época, pela Espanha.
O enredo se articula a partir de alguns fatos
essenciais: a devoção e fidelidade de um índio goitacá, Peri, a Cecília; o amor
de Isabel por D. Álvaro, e o amor deste por Cecília. Além disso, há algumas
situações antagônicas, como não poderia deixar ser em se tratando de
romantismo: o no caso da traição do personagem Loredano e o cerco dos índios
aimorés a casa de Cecília.
A obra, além
do valor estético-literário, tem um importante valor histórico, pois é sabido
que José de Alencar fez pesquisas em arquivos históricos da época do
descobrimento a fim de compor suas obras indianistas.
(prof. Igor Arraes)
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