domingo, 23 de julho de 2017

Ensaio, teoria, exemplo, proposta de redação.


    

O ENSAIO  


        O ensaio é um texto literário que contém uma discussão livre, pessoal, de um assunto qualquer.  Nele, o ensaísta coloca-se subjetivamente diante de um tema sem precisar provar ou mesmo justificar suas idéias, nesse caso, preocupa-o mais o exercício do raciocínio na sensibilização do leitor do que a apresentação de provas convincentes que validem uma tese. Dependendo do assunto, o ensaio pode ser literário, sociológico, filosófico, etc. Nele, regem três idéias básicas: “a) o auto-exercício das faculdades; b) a liberdade pessoal;  o esforço constante pelo pensar original. (Massaud Moisés)”. É um texto essencialmente crítico, já que propõe uma atitude ginástica do intelecto, contrariando o obscurantismo e o autoritarismo. Mantém uma preocupação estético-literária, procurando não convencer, mas comover o leitor.

CARACTERÍSTICAS


  • Linguagem culta, dentro do código padrão;
  • Capacidade de análise crítica;
  • Capacidade de articulação de idéias;
  • Progressão, informatividade;
  • Aspectos da descrição;
  • Aspectos da narração;
  • Tonalidade poética;
  • Didatismo;
  • Utilização da terceira pessoa ou primeira pessoa;
  • Estrutura livre;
  • Demonstração de independência ideológica;
  • Organização hierárquica dos argumentos
  • Organização hierárquica dos enunciados e todas as segmentações textuais
  • Utilização de título, quando requisitado


Proposta de Redação: Ensaio


1- (UFC) Leia os textos que seguem.

Texto I

            Álvaro fugia e evitava Isabel; tinha medo desse amor ardente que o envolvia num olhar, dessa paixão profunda e resignada que se curvava a seus pés sorrindo melancolicamente. Sentia-se fraco para resistir, entretanto o seu dever mandava que resistisse.
            Ele amava, ou cuidava amar ainda Cecília; prometera a seu pai ser seu marido; e, na situação em que se achavam, aquela promessa era mais do que um juramento, era uma necessidade imperiosa, uma fatalidade que se devia cumprir.
         ALENCAR, José de. O Guarani. Fortaleza: Edições UFC, 2006, p. 240.

Texto II

Loura e morena: duas faces do feminino

            Duas donzelas são responsáveis pela representação do feminino em O Guarani; Cecília, a loura; e Isabel, a morena. Mais do que simples traço de distinção física entre ambas, os atributos “loura” e “morena” são marcas de diferença racial e social e, acima de tudo, apontam para dois pólos opositivos e complementares na configuração do feminino na trama romanesca.
          SCHMIDT, Simone Pereira. “As relações do feminino/masculino em O Guarani”. In: Revista Letras de hoje. Porto Alegre: PUCRS, v. 30, no. 1, março 1995, p. 64.

Texto III

Ensaio – É um texto literário breve, em prosa, situado entre o poético e o didático, caracterizado pela liberdade crítica e pelo tom pessoal assumido pelo autor, que expõe suas idéias, críticas e reflexões a respeito de um tema. Consiste, portanto, na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema. Difere do artigo, principalmente, no que tange à forma de expressão das idéias: enquanto no artigo são expressas opiniões, no ensaio pressupõe-se o amadurecimento de convicções, ou seja, o autor apresenta uma argumentação convincente, resultado de uma reflexão baseada em dados.
           Texto elaborado com base em MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 175-178.

           
            A Academia Cearense de Letras está compilando diversos ensaios para organizá-los em uma obra intitulada Personagens Femininas de José de Alencar.

* Produza um ensaio no qual você analisa o antagonismo abordado por José de Alencar, em O Guarani, através das personagens Cecília e Isabel. Lembre-se de que seu texto deve apresentar a descrição das duas personagens e a reflexão acerca do enfoque dado por Alencar à oposição entre elas.

Exemplo de ensaio

PERSONAGENS EM CONFLITO

No Brasil, o Romantismo adquiriu uma roupagem local, principalmente com o indianismo de José de Alencar. Mesmo assim, as obras dessa fase refletem valores sociais burgueses. Essa constatação se dá claramente em O Guarani com a construção antagônica das personagens Cecília e Isabel.
Nesse romance,as personagens citadas são irmãs, convivem no mesmo ambiente, mas é perceptível a demonstração de superioridade de uma em relação a outra.
Cecília apresenta-se com traços angelicais, tanto que é confundida com uma santa pelo índio Peri, já Isabel possui traços fortes, sensuais, pois era assim que os europeus viam as mulheres nativas. Apesar de residirem na mesma casa, Cecília é fruto de um casamento, portanto filha legítima; enquanto Isabel é a filha bastarda, criada pela família do pai. Cecília, no romance, é a “princesa encantada”, disputada por três pretendentes, já Isabel sofre uma paixão enrustida por um dos pretendentes da irmã, aceita, estoicamente, esperar que a situação se decida. O que acontece somente com a morte dele.
Essas características observadas no romance demonstram o quanto José de Alencar estava em consonância com o seu tempo, mostrando todo o preconceito social a que estiveram submetidos os nativos e seus descendentes brasileiros, estendendo inclusive àqueles frutos da miscigenação. Olhar a obra de Alencar, hoje, é estender os olhos aos costumes da sua época.
O guarani, romance da fase indianista de José de Alencar foi publicado pela primeira vez em forma de folhetim,no Diário do Rio de Janeiro em 1857.
O romance é precursor da tríade indianista de Alencar (O guarani, Iracema, Ubirajara), tem como tema principal o amor de um índio, Peri,  por uma branca, Cecília, e um enredo ambientado na época da colonização portuguesa em meados do séc. XVII. A história se passa às margens de um rio para onde o pai  de Cecília, D. Antônio de Mariz,  fidalgo português,  resolve se mudar, fugindo da vergonha de ter seu país dominado,na época, pela Espanha.
O enredo  se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade de um índio goitacá, Peri, a Cecília; o amor de Isabel por D. Álvaro, e o amor deste por Cecília. Além disso, há algumas situações antagônicas, como não poderia deixar ser em se tratando de romantismo: o no caso da traição do personagem Loredano e o cerco dos índios aimorés a casa de Cecília.
A obra, além do valor estético-literário, tem um importante valor histórico, pois é sabido que José de Alencar fez pesquisas em arquivos históricos da época do descobrimento a fim de compor suas obras indianistas.

(prof. Igor Arraes)

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