Oi, mais uma vez é importante dizer sobre a cobrança de gêneros na prova objetiva do ENEM, no caso, mais um gênero jornalístico, a crônica. Particularmente, tenho muito prazer em ler e escrever crônicas. Várias são as questões no ENEM em que se coloca uma crônica inteira seguida das respectivas questões.
A seguir, para vocês, conceito, características e dois exemplos de gênios da crônica pelos quais tenho profunda admiração.
Bons estudos!
Prof. Igor Arraes
A
crônica
O
vocábulo “crônica” mudou de sentido ao longo dos séculos, primeiramente
designava uma relação de acontecimentos em função de uma organização
cronológica. Hoje denomina um texto híbrido, de estrutura livre, essencialmente
conotativo e que faz uma análise de
fatos do dia-a-dia.
A
crônica, como a conhecemos hoje, nasceu no meio jornalístico (França, séc. XIX)
a partir do momento em que a impessoalidade jornalística foi quebrada, ou seja,
a notícia passou e ser comentada. Nesse caso há de se salientar a transferência
de funções da referencial para a poética.
Dos
textos jornalísticos, a crônica é a que mais se aproxima da literatura, pois,
mesmo colhendo o seu material no cotidiano, em fatos corriqueiros, ela tem uma linguagem subjetiva, muitas vezes
poética, capaz de sensibilizar o leitor.
A
crônica moderna adquiriu diversas facetas: humorística, reflexiva, narrativa,
descritiva, argumentativa, tornando-se, sem dúvida, o gênero que mais apresenta
variações. Para o vestibular, geralmente não se cobra especificamente um tipo
de crônica, mas o faz de maneira geral. No
caso da redação, o candidato deve estar atento à proposta, pois ela
apresenta os condicionamentos quanto ao tipo de crônica a ser cobrado. Em regra
geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano.
Algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã, na feliz expressão de Fernando
Sabino
(Prof.
Igor Arraes)
Características
· Linguagem culta,
dentro do código padrão;
· Abordagem do
cotidiano e do pitoresco
· Análise do
comportamento humano ou de fenômenos naturais
· Aspectos da
dissertação subjetiva
· Aspectos da narrativa
· Aspectos da descrição
· Marcas da oralidade
· Função poética
· Ambiguidade;
· Função
Metalinguística;
· Estranhamento;
· Impressionismo;
· Explanação
· Utilização da
terceira pessoa ou primeira pessoa;
· Organização
hierárquica dos enunciados e todas as segmentações textuais
· Utilização de título,
quando requisitada
· Desenvolvimento de
ações de personagens a partir de uma situação determinada
Exemplos
O pavão
E considerei a glória de um
pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo
livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há
pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta,
como em um prisma. O pavão é
um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o
luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos.
De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele
suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos
recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)
SEXA
-
Pai...
-
Hmmm?
-
Como é o feminino de sexo?
-
O quê?
-
O feminino de sexo.
-
Não tem.
-
Sexo não tem feminino?
-
Não.
-
Só tem sexo masculino?
-
É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
-
E como é o feminino de sexo?
-
Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
-
Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
-
O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina.
O sexo masculino, o sexo feminino.
-
Não devia ser "a sexa"?
-
Não.
-
Por que não?
-
Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O
sexo da mulher é feminino.
- E como é o
feminino?
- Sexo mesmo.
Igual ao do homem.
- O sexo da
mulher é igual ao do homem?
- É. Quer
dizer... Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas
coisas diferentes.
- Então como é
o feminino de sexo?
- É igual ao
masculino.
- Mas não são
diferentes?
- Não. Ou, são!
Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não
muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é
masculina.
- Não. "A
palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "o pal..."
- Chega! Vai
brincar, vai.
(Luís Fernando
Veríssimo)
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