quarta-feira, 13 de abril de 2016

A Crônica




     Oi, mais uma vez é importante dizer sobre a cobrança de gêneros na prova objetiva  do ENEM, no caso, mais um gênero jornalístico, a crônica. Particularmente, tenho muito prazer em ler e escrever crônicas. Várias são as questões no ENEM em que se coloca uma crônica inteira seguida das respectivas questões. 
A seguir, para vocês, conceito, características e dois exemplos de gênios da crônica pelos quais tenho profunda admiração.
Bons estudos!
Prof. Igor Arraes


A crônica

       O vocábulo “crônica” mudou de sentido ao longo dos séculos, primeiramente designava uma relação de acontecimentos em função de uma organização cronológica. Hoje denomina um texto híbrido, de estrutura livre, essencialmente conotativo e que faz uma análise  de fatos do dia-a-dia.
A crônica, como a conhecemos hoje, nasceu no meio jornalístico (França, séc. XIX) a partir do momento em que a impessoalidade jornalística foi quebrada, ou seja, a notícia passou e ser comentada. Nesse caso há de se salientar a transferência de funções da referencial  para a poética.  
       Dos textos jornalísticos, a crônica é a que mais se aproxima da literatura, pois, mesmo colhendo o seu material no cotidiano, em fatos corriqueiros,  ela tem uma linguagem subjetiva, muitas vezes poética, capaz de sensibilizar o leitor.
        A crônica moderna adquiriu diversas facetas: humorística, reflexiva, narrativa, descritiva, argumentativa, tornando-se, sem dúvida, o gênero que mais apresenta variações. Para o vestibular, geralmente não se cobra especificamente um tipo de crônica, mas o faz de maneira geral. No  caso da redação, o candidato deve estar atento à proposta, pois ela apresenta os condicionamentos quanto ao tipo de crônica a ser cobrado. Em regra geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano. Algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã, na feliz expressão de Fernando Sabino
(Prof. Igor Arraes)

Características

·       Linguagem culta, dentro do código padrão;
·       Abordagem do cotidiano e do pitoresco
·       Análise do comportamento humano ou de fenômenos naturais
·       Aspectos da dissertação subjetiva
·       Aspectos  da narrativa
·       Aspectos da descrição
·      Marcas da oralidade
·      Função poética
·       Ambiguidade;
·       Função Metalinguística;
·       Estranhamento;
·       Impressionismo;
·       Explanação
·      Utilização da terceira pessoa ou primeira pessoa;
· Organização hierárquica dos enunciados e todas as segmentações textuais
·     Utilização de título, quando requisitada
·  Desenvolvimento de ações de personagens a partir de uma situação determinada


 Exemplos

O pavão
       E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma.             O pavão é um arco-íris de plumas.
       Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)



SEXA

      - Pai...
     - Hmmm?
     - Como é o feminino de sexo?
     - O quê?
     - O feminino de sexo.
     - Não tem.
     - Sexo não tem feminino?
     - Não.
     - Só tem sexo masculino?
     - É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
     - E como é o feminino de sexo?
     - Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
     - Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
     - O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
     - Não devia ser "a sexa"?
     - Não.
     - Por que não?
     - Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
     - O sexo da mulher é masculino?
     - É. Não! O sexo da mulher é feminino.
     - E como é o feminino?
     - Sexo mesmo. Igual ao do homem.
     - O sexo da mulher é igual ao do homem?
     - É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
     - Certo.
     - São duas coisas diferentes.
     - Então como é o feminino de sexo?

     - É igual ao masculino.
     - Mas não são diferentes?
     - Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
     - Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
     - A palavra é masculina.
     - Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "o pal..."
     - Chega! Vai brincar, vai.

(Luís Fernando Veríssimo)

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